domingo, 28 de fevereiro de 2010

NOVEMBRO 15




Refaço, repenso muitas das coisas que fiz.
Aquilo que ainda arde, aquilo que ainda dói.
Feridas escancaradas que insisto em pensar que posso curá-las com minhas próprias mãos.
Cutuco com as unhas suas cascas até voltar a sangrar. Até escorrer sobre minha perna, até encontrar e manchar o chão.
Gosto de ver o vermelho correr, gosto de contemplar seu vermelho vibrante.
Às vezes estico a  ponta da língua e refaço seu caminho molhado. Sinto seu gosto denso se seiva doce e azeda. Salgado por causa da carne.
Espalho por dentro da boca todo o seu sabor. Degusto seu pesar.
É gosto de mim que sinto. É gosto de muita coisa que acontece em mim. 
É macha que vem de mim e me mancha e me machuca.
Machuca e insiste em pensar que é esse o jeito para curar.
Cutuco porque não quero deixar de sentir, mas não quero que seja só sangue derramado em vão.
Derramando só para me embebedar de seu calor, de sua densidade, que sai de mim e volta, sem me deixar viver, sem me deixar morrer. Pois é sangue de solidão vazia que escorro e me embebedo.
Solidão.