sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

janela apunhalada

21 de setembro



Imploro que me apunhale
bem onde se escancara a janela
acerte em cheio o espaço
como se seu golpe o fizesse sair do lugar
como se o vazio pudesse engulir os atos,
tornando indiferente
o seu carater de brutalidade e devoção
quem sabem quando me acertar
perceba

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

domingo, 21 de novembro de 2010

A História de Teresa e o Mundo

A história poderia ser a história de Teresa, pois é de todas as mulheres.
Chamo de mulher tudo aquilo que tem alma.

Teresa tinha uma só palavra com a qual se identificava: grotesco.
E acreditem, essa é a palavra mais bonita que poderiam ouvir.
Tinha a mania de se expor e depois esconder.
Ao fechar as pernas escondia o mundo que contia em sua barriga e ria.
Achava graça no olhar pasmo dos homens que abandonava
esperando para terem um pouco do mundo,
ou apenas cutucar seu céu.
Corria, quase sem ter aonde ir.
Quando se escondia em um canto,
fazia com suas mãos lhe acolhessem entre suas pernas.
Nesse exato momento chorava.
E qualquer um que fosse Teresa choraria,
pois sentiria como é difícil carregar o mundo.
Saberia que quem tem que carregar o mundo, não pode carregar mais ninguém.

sábado, 13 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

entre a cruz e a espada

09 de outbro


Ai, que inferno
Ai, ressentimento dos infernos
Colocaram-me entre a cruz e a espada
cortaram-me com a cruz e a espada
subi no cavalo e tentei não abandonar a luta
lutei como um imbecil. perdi minha honra
usei de golpes baixos, pois estava por baixo
como cobra rastejei entre as pernas tentando não ser pisada
Me tornei um verme,
um verme do coco do cavalo do bandido
pois quando se fala em luta , se fala de paixão
e paixão é doença degenerativa

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Sobre a Eternidade

[imagem: Duene Michals]
    

    
para Alfredo Labriola
    

    No momento exato em que meu ser se expande,o lugar em que me encontro torná-se pequeno, insuficiente para o meu apse.
    O corpo, que até então me serviu, agora torná-se inútil, pois a minha percepção estende-se até muito além do que os olhos podem ver. Transpassa a qualquer superfície que possa chamar de sólida para penetrar na luz, na qual me misturo para fazer parte da composição pungente de um novo ser.
Transcendo meu corpo para me dissolver em todo os outros: decorrências do meu existir, agora, em minha morte, decorrências do meu ser.
    Sob a terra devolvo meu corpo para que não morra.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

para que transbordem ou se afoguem

As palavras não mais me transbordam.
não preenchem todo o meu corpo até que vazem
pelos olhos, ouvidos, boca,
ou qualquer outro buraco por onde se possa escapar.
permanecem contidas, porém inquietas dentro de mim.
não se cansam de revirar
me deixem em paz!
na minha barriga, subindo e descendo a garganta.

enfio meu dedo goela a baixo
saiam!
engasgo, cuspo e tremo
para que as palavras se aquietem ou se afoguem
privada a baixo.
as vejo rodando no meio da água
limpo minha boca
finalmente poderei dormir.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

(falta de) Preenchimento

 

 [releituras de foto de Duene Michals "The most beautiful part of a woman's body"]

terça-feira, 31 de agosto de 2010

...


gostar... gosto
querer... quero
espero esperar
(pois, sobretudo)
amo amar

terça-feira, 24 de agosto de 2010

De Tudo Um Pouco





De tudo um pouco
Acato
Nem sofro
De tudo um pouco
Pacato
Assombro
De tudo um pouco
No ato
Percoro
De tudo um pouco
Num salto
Em coro
De tudo um pouco
Com choro
Escondo
De tudo um pouco
Sensato
Prolongo
De tudo um pouco
Eu acho
em escombros.




segunda-feira, 16 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

MG

 

I'll be back to the cold sun, to the up and down of the old streets.
The warm smell go inside to my skin in the place of the old thoughts.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

diálogo...

(drama em 1 ato)


Rátio (em tom bem apreensivo) diz:
- "corre!"

Cárdio (estranhamente calmo) diz:
- "pega!"


domingo, 4 de julho de 2010

O trem



Meu corpo 
como um trem,
de movimentos
contidos e exactos,
premeditados
tem também compasso:
do coração.
chaminé, vapor, explosão,
Cansados,
boca, nariz,
os olhos apertados,
passageiros
de rostos estranhos
pelos vagões
a vasculhar
vazios.
vazios.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O

[imagem: Guido Crepax]

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Trilhos

 [imagem: Biba Rigo - modificada]

segunda-feira, 28 de junho de 2010

fool moon


e se... enche
demais
e cheia de si

é só...

metade luz
alheia
...o resto frio


sexta-feira, 18 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

Beco

 [imagem: Andrei Tarkóvski]


Lambo. As faces. Os brados. O assombro.
O fungo sórdido da omoplata.
Matéria molhada, a tua fronte modelar e eu
Subalterna, percistência dos teus calos
calado.

Ai, que inferno! Enquanto se esquiva entre becos
Em passos sortidos, eu já sou o passado.
Está à frente de todos os teus passos, tropeço
em covas e poros do caminho
que são tão semelhante à tua fronte
sem expressão.

Lambo o presente, pois há só tempo vivo
E vou morrendo. Entre o cair e o recompor
Meu existir ou extinguir  passeia
Sobre mim, o ácaro entope os rastro de teus atos
o que me resta: atalho secreto em linha reta.

sábado, 12 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Se Entenda I


 [imagem: Frida Kahlo]



I

Aceite. Tome pra si o fato que a tua boca sobre a minha
é trato. Encare agora ou antes;
antes que o trançar desfaça, antes
que as minhas veias escorram como a água, o ralo,  tome,
se agarra agora ao meu corpo, respire fundo meu sopro, ande
em cima do pulso ou compasso do meu coração.

O corpo que foge ao tempo, eterno, a  fome
de vagar pelo emaranhado, por dentro. Se esconde
pensar nas luas e lembrar que é lento
o pensar da tua carne, o peito
austero.
E acima urde o tempo, bater do tempo
batendo sob minhas veias, desde sempre
a vida escorre entre os relevos. Compasso. Batendo.

Descola da sua pele o vivo, sob um olhar de um corpo novo,
se entenda. E eu dilacerada a ouvir: amor, amor.
Andei e andei e dei de cara com o muro, antes
devo gritar, com toda minha força, ao ódio
tristeza em mim, ilhada, a água
batendo sem cessar nas pedras. Devo gritar.
Digo isso a mim mesma e ao tempo. Mas do teu lado eu me deito.
Imensa. De onda e ódio e dor.

sábado, 5 de junho de 2010

Trovas de muito amor para um amado senhor - Hilda Hilst

Nave
Ave
Moinho

E tudo mais serei


Para que seja leve
Meu passo
Em vosso caminho.




 (imagem: Flavia Vivacqua)

A Toureira

quarta-feira, 2 de junho de 2010

culpa em sonho


Estou na penumbra arrumando o quarto.
Uma bagunça.
Na penumbra as coisas parecem mais cinzas e empoeiradas.
O ar parece mais denso e inrespirável.
Vejo em uma mochila uma mão,
fina emaranhada em um cabelo loiro e liso.

Ponho em minhas costas a mochila, logo o cadáver.
Pego metro e a minhas costas doem e encurvam com o peso.
Ainda tenho
que andar muito.
O metro tem luz de hospital e as pessoas me estranham.

Na rua é madrugada e o tempo é longo e frio.
Ando muito e minhas costas doem.
Entro no galpão vazio e escuro
e penduro a mala no vestiário.

Não há mais peso, nem culpa.

"O cadáver é dele e ele é quem tem que resolve-lo."

terça-feira, 1 de junho de 2010

Máscara

Senta e se concentra.
Coloca em seu rosto o neutro e se prepara para tirar a máscara.
Deita e no despertar tira.
Tira do rosto a expressão neutra da qual ninguém vi por trás.
O neutro branco cobria a cara, deixando livre para finalmente se expressar.

(imagem: Moisés Barbosa [modificado])

sábado, 24 de abril de 2010

(impróprio logo imploro)

seu presente
pre sente um

futuro, nesse nosso
posso e, nesse troço

de derramar os laços
de trecos trocados
de amar errado, torto
cruzar linhas, criar nós

emaranhados na teia da vida
linhas embolando o tempo

...ponto...morto...

(esse) se arrasta num vagar
que é só um passatempo
para o tempo... paro e peço:

-passa tempo! passa tempo!
-PASSA TEMPO! PASSA...


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ao meu caro irmão morto


Meu caro, morto e sóbrio, ofuscante solar
senão eu, quem te penetra a carne, senão eu
dilacerada em pedaços, te soprará aos ouvidos,
eu que te senti, eu que ao mal tocar sua boca
já sentia a fúria contida em seu olhar pasmo
eu, que cobicei seu futuro e depois chorei
ao dizer: "amor não és, em vida. quem sabe em morte"
Ah! se sentisse o pesar que as palavras me causam
o engolir do tempo, o nosso triste tempo.
um tempo a mais e nem mais preciso ouvir-te
cantar os repentes do vem e vão.

Os barcos, meu caro, o bruto, o luto
a tua morte outra vez, a nossa morte, assim o tempo:
engasgando as palavras cada vez mais frias
Pois fria é a ausêcia sua em morte
apesar de me dizerem vivo, pois canta.
rebate em silêncio nos seu golpes brutos
o que digo cravando as unhas no seu coro cabeludo:
"Te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade"
 
O futuro está na ausência de calor, de verdade.
E as cores vibrantes gritam em meu olha sem cor:
MORTE!
morte a todos os navegantes da lucidez cotidiana
de ir e vir nos seus nexos frígidos, inrustídos, irmão.
Meu caro, que ardência me faz sua morte.

(inspirado em poema de Hilda Hilst)




quarta-feira, 14 de abril de 2010

sábado, 10 de abril de 2010

10 de abril

O sereno da dor do homem é cambaleante. Torto em tudo, pois só assim de faz reto. Os olhos mareados, turvos de foligem cinzenta, massa densa. Pesa e curva o corpo em S de pau duro e erro insistente. Escorre chorume em flor no eterno retorno que torna retorno em vão: fundo sem luz no fim, ao dar a luz ao fim.

terça-feira, 6 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

aos poucos querer



É tudo muito aos poucos
É duro pra mim
O pouco do teu ato
O duro de teus braços
Negando o que mais quero em ti
As lágrimas afoitas
Que querem te dar
O que é mais seu
Meu corpo não é nada
Além do que eu
Que quer
Além de tudo de você
Ser aquilo que quer
Inconstâncias do seu querer
Sofro por não ser
Nada além de mim
Nada do que quer
Apenas mais um querer

segunda-feira, 29 de março de 2010

mistério


nó, rumando ao impasse
antes pré-existente em
nossas palavras mudas
vontade transbordante
o já pós-insistente nó
impassível segredo, é

impossível mover-se
equidistante desejo

de nós, demais, de nós
nosso absoluto agora

sangue quente
mãos molhadas
frio na espinha

deter gente
deter a gente
de ter a gente

de nós, de mais, de nós
obtuso... agudo... agora

sexta-feira, 19 de março de 2010

Janeiro 16 - Deleite Vazio



(imagem: Joel-Peter Witkin)


Quem vai dar o último grito?
O último adeus sufocado e socado goela a baixo.
O último nó dilacerado
forçado e apertado
nos obrigamos a esquecer.

Da onde sai tanta ilusão?
Tanta impressão sobre o nada
do vazio de todo dia
de todo beijo
de todo copo bebido
enfraquecido pelo tempo
o veneno do peito
sufocante, matante,
mortal.

De  onde sai tanto deleite
com os atos mal feitos
história nojenta e brutal
que manchou todo o tapete
toda a casa
a cara e o corpo
de sujeito

Tá feito.

Volta pra casa em silêncio
com a boca amarrada
e o peito marcado de saliva



[é muito quente se se espera pelo cair da bomba no chão, que seus estilhaços enfinquem no corpo que cai em tormenta de joelhos]

segunda-feira, 1 de março de 2010

Novembro 10

Ordenar palavras em frases bem compostas.
Colocá-las em minha boca para se tornarem audíveis, interligíveis.
Objetivo claro, mas oculto em suas entranhas.
Implícito todo seu caráter de verdade, mas sem vulgarizá-lo com palavras escancaradas e diretas.
Claras.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

NOVEMBRO 15




Refaço, repenso muitas das coisas que fiz.
Aquilo que ainda arde, aquilo que ainda dói.
Feridas escancaradas que insisto em pensar que posso curá-las com minhas próprias mãos.
Cutuco com as unhas suas cascas até voltar a sangrar. Até escorrer sobre minha perna, até encontrar e manchar o chão.
Gosto de ver o vermelho correr, gosto de contemplar seu vermelho vibrante.
Às vezes estico a  ponta da língua e refaço seu caminho molhado. Sinto seu gosto denso se seiva doce e azeda. Salgado por causa da carne.
Espalho por dentro da boca todo o seu sabor. Degusto seu pesar.
É gosto de mim que sinto. É gosto de muita coisa que acontece em mim. 
É macha que vem de mim e me mancha e me machuca.
Machuca e insiste em pensar que é esse o jeito para curar.
Cutuco porque não quero deixar de sentir, mas não quero que seja só sangue derramado em vão.
Derramando só para me embebedar de seu calor, de sua densidade, que sai de mim e volta, sem me deixar viver, sem me deixar morrer. Pois é sangue de solidão vazia que escorro e me embebedo.
Solidão.