quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Onde os Cascos Não Tocam

Por mais que as curvas se façam
por mais que os rios oscilem 
ou descansem suas águas,
tais atos precedem a queda
e com a queda se faz força.
De rios se faz o mar
e de água se faz o corpo.

Não me preocupam os ventos que  te sopram
ou os cochichos que norteiam sua bússola. 

Onde tiver água
fluirei
e pelas encruzilhadas
te encontrarei.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Direção

[ALEPHOGRAPH: THE WORK OF LUKE CASPAR PEARSON, ARCHITECTURAL ARTIST AND BARTLETT UNIT 4 TUTOR.}

Vou seguir a forma estranha
os panos,
(planos)
nunca igual a outros.
Sem medo
ou mesmo aflição.
Sigo as linhas
a costura
que julgo reta.
Pois tenho em mim
 dois corações
dois caminhos tortos
indo ao encontro
de um mesmo lugar.

Afinal,
não existe o percorrer,
o mover,
apenas os estático estado de ser.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Tu nao te moves de ti

"para onde vão os trens meu pai?
para mahal, tamí, para camirí, espaços no mapa,
e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho,
tu podes ir e ainda que se mova o trem
tu não te moves de ti."
Hilda Hilst

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Horizonte




"Vai, a onde vem"
soprar teu nome
Que é formado de ventos
suaves de melancolia blue.
Compõe também
o ar  dos meus e teus olhos.
Te fitando como quem fita o mar,
o horizonte inexistente,
presente diante de mim.
Como sempre, como se já ausente.
Me esforço,
mas não consigo aceitar sua existência.
De tão perfeito, irreal.
Nossa distância e separação,
por uma linha fictícia entre azuis,
acredito nisso tudo:
em toda nossa fantasia
e brincadeira de irmãos.
pois não há ninguém para dizê-la irreal.
Seguimos lado a lado,
rumo a linha distante do mar,
pensando nunca termos nos visto antes.



domingo, 14 de agosto de 2011

Domingo-feira



Onde está agora?

    Lembro das feiras de domingo, com muita luz do sol e logo cores; das frutas, verduras, saias, cabelos soltos e bonitos de propósito. Tudo em desfile, tudo a mostra. Banana, melão, pernas e violão.
    No amarelar da tarde entrar e desejar nunca mais sair da água.
    Um pouco antes  do escurecer, uma cerveja no bar - ou duas e três ... - para começar a finalização do dia e da semana. Como as semanas passam rápido! E logo o mês, um, dois, três. Um ano e nada mudou ao mesmo tempo que tudo está diferente. Tento agarrar com força o presente - você - mas como areia, escorre entre meus dedos. E quando abro a mão, apenas alguns grãos - lembranças distantes do mar.
    Mas aqui, agora, em minha cama, meu quarto, nem feira, nem mar. Nem você, nem ninguém, pois São Paulo não existe -ninguém- existe. É assim o presente - o tempo - em um piscar de olhos estarei em outro lugar, em outra cama, boiando ou afundando na água, com você ou talvez outra pessoa. Tudo difente e tão igual. Pois tanto a luz quanto o tempo são eternamente sempre tão efêmeros.

Em que lugar do tempo você está agora?

sábado, 16 de julho de 2011

Marina Cansada de Esperar



Ah, seu barco, seu casco,
que águas tocam?
Que ventos sopram 
em seus cabelos de sal?
Percorre águas distantes,
abundantes demais,
ou atraca-se em algum cais?

Deixou-se iludir
pelo brilho do cobre,
pelo ouro do sol,
que é fogo falso e nada mais.

E agora,
que direção sua bússola aponta?
onde vai encontrar seu perdão?

Volta.
Mesmo que com cheiro de mar,
com areia no fundo dos bolsos
e um sorriso estranho na cara.
Esqueça toda essa imensidão;
Venha se acolher em meus braços,
cansados, terrenos, brutais.
Se deixe afogar em meu vazio
peito petrificado e milenar
porto
seguro jamais.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Exílio a Izu

Envolta em folhas de bambu
a gratidão silenciosa.

Sozinho meu corpo
mas eu nunca.
Onde na trama do tempo
costuramos nossos laços?

Alguns franzem a testa e praguejam
em ouvir meu nome.
Quem sou eu?
Trago um segredo desvelado.

Me pedem que cure suas chagas
enquanto pelas costas amaldiçoam-me.
Por que negaria?
Vim para sussurrar para todos
o segredo que ecoa em seus corpos,
que perduram no tempo eterno.
Sua natureza é eterna.
Imutável.

Do segredo
somos todos portadores.
Como então não seríamos o mesmo?
"eu sou o único"
Por fim, nós.
Três milhões.
Três mil mundos.
Único momento de vida.

Estou em todos os lugares,
mas me vêem 
como um cego vê-se no espelho.

Descrevemos de formar diferentes,
mas estamos no mesmo lugar.
O que muda então?
A mente daquele que olha.
O lugar é o mesmo:
o bosque das árvores salgadas.

Tente me enxergar.
Tire a venda dos olhos
e me diga o que vê:
ouro, lebre ou cadáver?

Me perguntam se podem beijar meus pés
não poderia eu beijar os seus?
Aquele que morre e o imortal são os mesmos.
Segredo pulsa igualmente em todos nós,
basta saber ouvir.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Carta ao Sol

[imagem: Turner]






Sol, como vai? Tenho muitas saudades.
O dia de ontem estava extremamente frio e chuvoso. Voltei pra casa com o peito batendo inconstante. Sem a menor explicação. Uma hora parecia que ia me rasgar a pele, outra diminuía ao tamanho de um grão. Isso numa velocidade enorme, cujo barulho ecoava por todo  o meu corpo.
Dei-me o direito de um momento piegas. Aqueles em que deixo que sentimentos se aflorem a vontade, lembrando, imaginando e desejando ter feito e um dia fazer coisas que nunca faria em momentos de sobriedade (considerando que não era devido ao álcool que me encontrava em um estado ébrio). Só por suposição. Só porque a chuva parece pedir por tortura. Ela delata nossa solidão e arrependimentos. Ou talvez apenas ressalta novas possibilidades. água que vem do céu nos obriga a lembrar que o mundo é vasto e nós pequenininhos. Parece que a água que cai em mim é a mesma em qualquer lugar do planeta. Comunicando a todos que ela toca. Como Hermes. Mensageira dos deuses e mortais.
A chuva me trouxe uma mensagem, vinda não sei de onde, mandada por não sei quem. Sei que chegou a mim. Permiti me deixar molhar de lembrança tua (pois foi essa a mensagem que chegou). Tentei rememorar como eram suas mãos, seus braços, seu pescoço. Em vão. pois meus olhos estavam impregnados dos seus olhos e minha boca da sensação estranha (que não sei como contive) de querer beijar os cantos da sua, onde os lábios fazem fronteira confusa com o bigode. 


Sei que é a primeira vez que te declaro isto. Infelizmente, pois creio que se eu tivesse te dito antes, as coisas não teriam apenas ficado no ar. Seu calor que esquentava, apesar de distante, ainda esquenta. Será que se eu chegar mais perto, me queimarei, como Ícaro?


Me sinto a ver navios. Talvez eu pudesse ajudar a levá-los, não apenas ficar olhando. Mas agora tanto faz. Vou correr mundo. Pois parada me sinto cada vez mais fraca, até quase não existir. É isso que a chuva veio me lembrar, que apesar de não saber pra onde vou, é necessário caminhar.

Espero que não se assuste, nem que se sinta pressionado a corresponder ou mesmo responder. É só um desabafo, pois foi forte a sensação dos pingos em mim e tenho tentado respeitar e compreender as coisas que vem de lugares que eu não sei onde ficam.


com carinho
Vento

terça-feira, 31 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

edificar na areia

A sensação de não construir
afundar lentamente os pés na areia
onde castelos não se sustentam mais.
Afundar dentro de si e ao redor
O mar cavar e engolir.
Não conseguir engolir
pelo nó cravado entre as cordas
que faz o suor entre os peitos sangrar.
O corpo oscila como o mar
mas os pés fincam-se firmes
 com peso na areia.
Empurre e verá minha cara estatelada no chão,
sem ao menos me mexer.
O mar vem lamber,
a areia engolir
e edificar castelos em cima de mim.

terça-feira, 10 de maio de 2011

o reflexo

[imagem: Turner]


Ele gritava (em vão)
por silêncio para ser ouvido.

Não há cordas que não arrebentem
e antes disso NÓS
por onde nem cantos 
nem suspiros podiam passar.

Agora, com as cordas arrebentadas
a vela balança frouxa 
feito chama ou bandeira sem país.
O vento lambe o pano
sem sentido
barco quase não se move mais
segue a esmo 

"pra onde vamos?"
ninguém responde.

Temo por ser passageiro
o timoneiro está bêbado
"tem alguém aí?"
a cabeça se sustenta no corpo assim como a vela
"com qual de nós está falando?"
"cadê o outro?"
"caiu no rio, que rolou pro mar, nas águas que bebi.
Agora não consigo mais tirá-lo de dentro de mim"
A  garrafa estilhaçada entrou e saiu certeira
as víceras também

Ele gritava, mas só eu o ouvi
"Saia! Saia de dentro de mim!"

Sai gritando por socorro
mas gritavam mais alto
estavam todos loucos.
Subi até a vela
e implorei ao vento que me levasse para longe dali,
mas creio que foram os tubarões que ouviram meu pedido.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sinceridade em si maior



O som ao lado
nada mais em mim.
Não digerir,
engulir,
sentir
sem eco por dentro.

Ouvir:
entender sem pensar.

Gestos sem carga
ou sentidos além consigo.
Golpes brutos
não mais
só as lambidas sinceras
dos meus cílios nos seus.
Não há beijos que os olhos não dêem.
mão:
pássaro sereno
pausado
cabelo:
enroscado nos meus 
dedos:
tenho medo de te ferir
ou sentir que seu sangue pulsa
no mesmo compasso que o meu.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

On Air

11 de outubro de 2010


Soma as ações do tempo
que reverberam em todos
os atos contidos das mãos
impregnadas de gestos
premeditados sentidos.
é o tempo que age
o resto
é destino que rege
quem vai negar
o querer ilegítimo
de se banhar duas vezes
nas águas impuras
de um rio que (dizem)
não é nunca o mesmo
nem quem nele se banha.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

aranhas - 2 de abril


[imagem: escultura de Louise Bourgeois]


Por onde meus passos têm caminhado?
Os pés tateiam algum chão
cacos de vidro,
plumas

ou véus
linha por linha
poro por poro
se dilata,
se dissolve no espaço
o tato embriagado
vaidade

ou perfume de mulher
em seus cabelos moram as aranhas
que se escondem debaixo de seus braços
os pêlos de todo o corpo são macios
tecidos pelas tais aranhas
que saem de seus poros
nascidas de seus seios, macios

onde estão fincados os meus pés?
pensei que caminhava
passo ante passo no mesmo lugar
os cacos não sinto mais
não me lembro  mais
como era não estar embriagado
ou em movimento.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

filhos e irmãos

Me sinto-te terra
irmão
filho pródigo do ar
sem volta
mas ainda sim
filho

terça-feira, 12 de abril de 2011

29 de março

Numa senhora
de tranças amarradas
eu suas amarras
ou rugas na cara
pernas brancas e calcinha
cuja a grama alta corta
e esfola molhado
ar vermelho
a terra úmida
lambuza os pés
engole
(engulo)
a terra-útero
do outro lado
o renascer-pai
desconstruído

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Nostalgia da Luz





31 de outubro de 2010

Pelo deserto
Não cesso minha busca pela permanência.
Ninguém cai, ninguém levanta.
Onde as estrelas são a prova da violência
é impossível dormir
quando debaixo de meus pés
reclamam lembranças mortas.
Os vivos estão mais mortos
e ninguém reclama pelos vivos.
Tropeço em pedaços de estrelas em decomposição.
Eles não tem rosto, mas clamam por identificação.

Onde debaixo dos pés as estrelas não dormem
Olhamos para o céu procurando por salvação
ou identidade que nos dê sentido.

quinta-feira, 31 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

sábado, 12 de março de 2011

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Falência - 21 de dezembro

Sabe
que tudo e tudo mais 
se funde, fali
se acaba em um triz.

Não me parece prudente
- mas talvez sensato - desistir das coisas.
Abandonar pelo trajeto os objetos, projetos, pessoas e tudo mais.
Deixar as coisas falirem e seguir
ou falir com elas.
O inesperado é tentar não deixar
as coisas irem.Não afundar nem abandoná-las.
Tentar o reviver.
Tudo fali, mas tudo se salva.
As coisas só falem
quando você fali também.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

16 de janeiro


As moscas pousam sobre minha perna
finjo que nem sinto, mas sinto
como pousa o sol sobre minha pele
e se adentra
e se espalha como tinta.
Não há nada a fazer
apenas fingir entrega
sem amarras nem laços
porém couraça e espinhos.
E os pés descalços nas pedras
calejam, ressecam e racham.
É assim,
mas espero que haja solução.