terça-feira, 31 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

edificar na areia

A sensação de não construir
afundar lentamente os pés na areia
onde castelos não se sustentam mais.
Afundar dentro de si e ao redor
O mar cavar e engolir.
Não conseguir engolir
pelo nó cravado entre as cordas
que faz o suor entre os peitos sangrar.
O corpo oscila como o mar
mas os pés fincam-se firmes
 com peso na areia.
Empurre e verá minha cara estatelada no chão,
sem ao menos me mexer.
O mar vem lamber,
a areia engolir
e edificar castelos em cima de mim.

terça-feira, 10 de maio de 2011

o reflexo

[imagem: Turner]


Ele gritava (em vão)
por silêncio para ser ouvido.

Não há cordas que não arrebentem
e antes disso NÓS
por onde nem cantos 
nem suspiros podiam passar.

Agora, com as cordas arrebentadas
a vela balança frouxa 
feito chama ou bandeira sem país.
O vento lambe o pano
sem sentido
barco quase não se move mais
segue a esmo 

"pra onde vamos?"
ninguém responde.

Temo por ser passageiro
o timoneiro está bêbado
"tem alguém aí?"
a cabeça se sustenta no corpo assim como a vela
"com qual de nós está falando?"
"cadê o outro?"
"caiu no rio, que rolou pro mar, nas águas que bebi.
Agora não consigo mais tirá-lo de dentro de mim"
A  garrafa estilhaçada entrou e saiu certeira
as víceras também

Ele gritava, mas só eu o ouvi
"Saia! Saia de dentro de mim!"

Sai gritando por socorro
mas gritavam mais alto
estavam todos loucos.
Subi até a vela
e implorei ao vento que me levasse para longe dali,
mas creio que foram os tubarões que ouviram meu pedido.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sinceridade em si maior



O som ao lado
nada mais em mim.
Não digerir,
engulir,
sentir
sem eco por dentro.

Ouvir:
entender sem pensar.

Gestos sem carga
ou sentidos além consigo.
Golpes brutos
não mais
só as lambidas sinceras
dos meus cílios nos seus.
Não há beijos que os olhos não dêem.
mão:
pássaro sereno
pausado
cabelo:
enroscado nos meus 
dedos:
tenho medo de te ferir
ou sentir que seu sangue pulsa
no mesmo compasso que o meu.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

On Air

11 de outubro de 2010


Soma as ações do tempo
que reverberam em todos
os atos contidos das mãos
impregnadas de gestos
premeditados sentidos.
é o tempo que age
o resto
é destino que rege
quem vai negar
o querer ilegítimo
de se banhar duas vezes
nas águas impuras
de um rio que (dizem)
não é nunca o mesmo
nem quem nele se banha.