quinta-feira, 16 de junho de 2011

Exílio a Izu

Envolta em folhas de bambu
a gratidão silenciosa.

Sozinho meu corpo
mas eu nunca.
Onde na trama do tempo
costuramos nossos laços?

Alguns franzem a testa e praguejam
em ouvir meu nome.
Quem sou eu?
Trago um segredo desvelado.

Me pedem que cure suas chagas
enquanto pelas costas amaldiçoam-me.
Por que negaria?
Vim para sussurrar para todos
o segredo que ecoa em seus corpos,
que perduram no tempo eterno.
Sua natureza é eterna.
Imutável.

Do segredo
somos todos portadores.
Como então não seríamos o mesmo?
"eu sou o único"
Por fim, nós.
Três milhões.
Três mil mundos.
Único momento de vida.

Estou em todos os lugares,
mas me vêem 
como um cego vê-se no espelho.

Descrevemos de formar diferentes,
mas estamos no mesmo lugar.
O que muda então?
A mente daquele que olha.
O lugar é o mesmo:
o bosque das árvores salgadas.

Tente me enxergar.
Tire a venda dos olhos
e me diga o que vê:
ouro, lebre ou cadáver?

Me perguntam se podem beijar meus pés
não poderia eu beijar os seus?
Aquele que morre e o imortal são os mesmos.
Segredo pulsa igualmente em todos nós,
basta saber ouvir.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Carta ao Sol

[imagem: Turner]






Sol, como vai? Tenho muitas saudades.
O dia de ontem estava extremamente frio e chuvoso. Voltei pra casa com o peito batendo inconstante. Sem a menor explicação. Uma hora parecia que ia me rasgar a pele, outra diminuía ao tamanho de um grão. Isso numa velocidade enorme, cujo barulho ecoava por todo  o meu corpo.
Dei-me o direito de um momento piegas. Aqueles em que deixo que sentimentos se aflorem a vontade, lembrando, imaginando e desejando ter feito e um dia fazer coisas que nunca faria em momentos de sobriedade (considerando que não era devido ao álcool que me encontrava em um estado ébrio). Só por suposição. Só porque a chuva parece pedir por tortura. Ela delata nossa solidão e arrependimentos. Ou talvez apenas ressalta novas possibilidades. água que vem do céu nos obriga a lembrar que o mundo é vasto e nós pequenininhos. Parece que a água que cai em mim é a mesma em qualquer lugar do planeta. Comunicando a todos que ela toca. Como Hermes. Mensageira dos deuses e mortais.
A chuva me trouxe uma mensagem, vinda não sei de onde, mandada por não sei quem. Sei que chegou a mim. Permiti me deixar molhar de lembrança tua (pois foi essa a mensagem que chegou). Tentei rememorar como eram suas mãos, seus braços, seu pescoço. Em vão. pois meus olhos estavam impregnados dos seus olhos e minha boca da sensação estranha (que não sei como contive) de querer beijar os cantos da sua, onde os lábios fazem fronteira confusa com o bigode. 


Sei que é a primeira vez que te declaro isto. Infelizmente, pois creio que se eu tivesse te dito antes, as coisas não teriam apenas ficado no ar. Seu calor que esquentava, apesar de distante, ainda esquenta. Será que se eu chegar mais perto, me queimarei, como Ícaro?


Me sinto a ver navios. Talvez eu pudesse ajudar a levá-los, não apenas ficar olhando. Mas agora tanto faz. Vou correr mundo. Pois parada me sinto cada vez mais fraca, até quase não existir. É isso que a chuva veio me lembrar, que apesar de não saber pra onde vou, é necessário caminhar.

Espero que não se assuste, nem que se sinta pressionado a corresponder ou mesmo responder. É só um desabafo, pois foi forte a sensação dos pingos em mim e tenho tentado respeitar e compreender as coisas que vem de lugares que eu não sei onde ficam.


com carinho
Vento