terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ficou, e há de estar, somente essa carta que me deixaram antes de raiar.
Ficou assim dobrada, amassada, jogada de canto para não se enxergar,
mas vi e dai que começou tanto desenrolar que hoje caminha junto ao respirar.

É carta marrom e antiga, as palavras tanto fazem, ler é pra quem pensa
Pensar é pra quem tem mente, eu só tenho o que sinto, sensações.
Tem cheiro forte, mistura de café com tempo
Tem jeito de árvore, peso de vento e formato lento.
Daquelas de saborear cada linha, mesmo no não entender,
Jeito afinal de vida, pois ela,
carta esquecida,
que me acordou e fez raiar a vida que aqui jazia.

Queima assim como chama ardente um desinteressado gajo
Cinza apagada, voada sem assas, por donde não devia passar
É nesse ir e voltar transparado, ou nada estático, que segue pulsante um gajo a nada interessar.

Bar barato que deixa de estar no instante de pagar
É corrimão descarado, remanejado, que de dia-a-dia é o que há.
Assim de copo à copo se apaga chama antes ardente de um gajo que se deixou interessar e de cá nunca mais voltará.

Traça que haja.

Traça que se desfaça a carne intacta que sempre lhe passa
Que seja o passado assim, metade por desinteiro, olhado e talvez um pouco aguado.
E nada adiantar tentar chiar, sopro miúdo é fala sem palavras
Melhor se adiantar, passo antes de passo, já que já se traça e se desfaz a intacta carne que em todos nós perpassa.