terça-feira, 10 de maio de 2011

o reflexo

[imagem: Turner]


Ele gritava (em vão)
por silêncio para ser ouvido.

Não há cordas que não arrebentem
e antes disso NÓS
por onde nem cantos 
nem suspiros podiam passar.

Agora, com as cordas arrebentadas
a vela balança frouxa 
feito chama ou bandeira sem país.
O vento lambe o pano
sem sentido
barco quase não se move mais
segue a esmo 

"pra onde vamos?"
ninguém responde.

Temo por ser passageiro
o timoneiro está bêbado
"tem alguém aí?"
a cabeça se sustenta no corpo assim como a vela
"com qual de nós está falando?"
"cadê o outro?"
"caiu no rio, que rolou pro mar, nas águas que bebi.
Agora não consigo mais tirá-lo de dentro de mim"
A  garrafa estilhaçada entrou e saiu certeira
as víceras também

Ele gritava, mas só eu o ouvi
"Saia! Saia de dentro de mim!"

Sai gritando por socorro
mas gritavam mais alto
estavam todos loucos.
Subi até a vela
e implorei ao vento que me levasse para longe dali,
mas creio que foram os tubarões que ouviram meu pedido.

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