sábado, 9 de fevereiro de 2013

quero ser o rio

Fim da tarde.
A árvore senhora
contempla
um rio que chama
águas cobre e tons terra
   presença fluida.
       
Nós também vamos,
 fluímos
e desmanchamos.




°



À margem
o barco
um menino com rede
a adormecer peixes.

O sol morre
mais uma vez
seu sangue tinge 
o céu
e o rio
espelha
a impermanência.

O silêncio canta
a noite nascer
atrás da curva
toda aldeia laranja
se enegresse.

E o domínio da escuridão
chama fogo,
          velhos
                e crianças
para se unir
e cochichar estórias
fora do tempo.




°



Mais um ciclo.
Nada se vê
se fala
ou mesmo se pensa.
Pois é consumado
o sorriso.

À margem
eu
observei e chorei.

Pois viver
diariamente
a plenitude da vida.
simples e magnânima,
é privilégio de poucos.

Quem realmente está vivo?

Me vejo neste rostos
e em todos os outros.
Mas carrego no corpo 
a cor da culpa.

Quem eu sou?



No dia em que todos puderem viver,
quero ser o rio.




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