sábado, 20 de outubro de 2007

Trecho de "Inútil canto e Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos" - Plínio Marcos

"(...) E as labaredas cresciam e lambiam os vinte e cinco homens, e os gritos e os gemidos e os pedidos de socorro se perdiam nas imundas paredes, frias e úmidas, onde eles escreveram blasfêmias ditadas pela impaciência e pelo desespero. E o fogo crescia e a fumaça sufocava, e o fogo queimava, e o desespero desesperava, e os homens se debatiam, um querendo usar o corpo de outro como escudo contra as chamas, e disputavam com fúria e toda violência o direito de enfiar a cara no excremento da latrina, para escaparem do sufoco da fumaça. E o fogo queimava, a fumaça sufocava, a carne ardia, assava, e o fedor fedia, e a fumaça sufocava os pulmões cheios de cavernas se rompiam, e a tosse, e a tosse, e a tosse. E o cheiro da carne assada era o cheiro da carne humana assada, um cheiro doce, doce, enjoativo, doce de dar náuseas, doce carne humana, a doce carne humana, que só é doce quando arde de amor, ardia de desespero, e o odor era doce, terrivelmente doce, nauseante."

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