sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Fina, bamba, trêmula - Camille.

Camille fazia de tudo para não cair dali. Era alto e ela ia se machucar, sem falar que era sua primeira apresentação no circo da cidade.
"Já vou me encontrar com o olho da rua, denovo" - pensava, enquanto tentava se equilibrar em cima daquela corda fina e bamba, a alguns metros do chão. Ah, esses metros chegavam a parecer quilômetros.
O público olhava para ela com horror, nervoso, medo. Se divertida com isso. As caretas e tudo mais. Mas não podia rir, não podia se desconcentrar. Ia só passando o olho pela platéia, pelo seu chefe, pela fina corda bamba e assim em diante. E a música ia ficando cada vez mais rápida, acelerando o passo e o pulso de Camille.

- Platéia, chefe, corda, platéia, chefe, corda, platéia, chefe, corda -

A música ficava cada vez mais rápida. Camille começava a correr com cautela e medo por cima da corda, e a corda balançava e tremia, fazendo com que esse processo se tornasse cada vez mais difícil. Mesmo assim, continuava: Platéia, chefe, corda, platéia, chefe... O chefe a olhava com ódio. Percebeu isso mesmo estando a quilômetros do chão. Sentiu um rápido calafrio e um tremura, que fez com que perdesse totalmente o equilibrio - chefe, platéia, corda, chefe, platéia, chão, chefe, chão, chão. A música foi se esvaindo, ficando fraca, desaparecendo, sumindo.
Quando acordou, Camille encontrou-se em total confusão. Por mais preto, silencioso, calmo e estático fosse o lugar em que se encontrava, lhe batia um desespero horrível, misturado com a dor insuportável que havia contraido com a queda. Não conseguia respirar direito, não conseguia se mexer. Estava em sérios apuros; desesperada e machucada em lugar nenhum. E sua memória foi indo embora, e suas lembranças foram indo embora, e sua alma foi indo embora, e seu último pensamento foi - preto, corda, platéia (e agora poderia rir das caras e caretas de espanto do público, e ah, como se divertia), preto, corda, branco, corda, branco, corda, branco - e ria.

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